Deuteronômio e o divórcio
“Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, se ela não achar graça aos seus olhos, por haver ele encontrado nela coisa vergonhosa, far-lhe-á uma carta de divórcio e lha dará na mão, e a despedirá de sua casa.” Dt. 24
Deuteronômio significa uma revisão da Lei, demonstrando que ela já não estava em originalidade, mas vinha de segunda mão. Entre os judeus já havia a carta de divórcio. “Em hebraico, recebe o nome de guerushim e se formaliza mediante um contrato conhecido como guet ou sefer keritut. A mulher pode então casar-se com qualquer homem, exceto aquele com quem manteve relações antes do divórcio ou com um sacerdote ou kohen. Quanto às causas, a escola de Hillel (séc. I a.C.) admitia como causa qualquer coisa que desagradasse ao esposo, como queimar a comida, enquanto a de Shamai (séc. I a.C.) limitava-o aos casos de adultério”(Dicionário de Jesus e dos Evangelhos). Geralmente era uma forma de um homem trocar a sua esposa por uma mais jovem, devolvendo-a a família por qualquer motivo que dessa causa. Outro motivo era alguma contaminação. Esqueceram de lembrar que o homem também se contamina.
Por outro lado, o mestre Jesus ensinou que até quem deseja a mulher do próximo em pensamento comete adultério. Igualmente quem se casa após separação. A doutrina cristã é que ou o homem se casa uma única vez ou não se casa. Para tanto, o casamento tem papel importantíssimo na fé. Assim, não se deve confundir o princípio espiritual do casamento, com costumes antigos. O casamento é reflexo da união divina do céu com a terra. A separação, ou divórcio aí é um mal. Isso se torna mau aos olhos do Senhor. Logo, não há divórcio. Quem se separa ou divorcia, e arruma outra consorte, está cometendo adultério. No livro cabalístico do Zohar a história de Adão e Eva e a queda se deu por adultério com as serpentes-demônio, Samael e Lilith. Se o homem não consegue ser fiel a sua esposa, como pode ser fiel a Deus? Logo o que vale é o ponto de vista espiritual sobre as núpcias da Igreja com Deus, não do homem como indivíduo. Há muitas analogias de adultério de Israel para com o Senhor na Bíblia, comprovando essa interpretação. Mas muitos reis da Bíblia tiveram mais de uma esposa, como Salomão e Davi. Teólogos da libertação já defendem o progresso nesse sentido, sendo o adultério muitas vezes necessário para se evitar um mal maior, como violência doméstica contra a mulher, dependência química do marido etc. Daí se deduz que talvez o que mais importe aí é a fidelidade espiritual e pelo menos sinceridade para terminar uma relação. Mesmo Joseph Murphy, se demonstrou a favor de sugerir o divórcio em certas uniões, porque essas não são feitas por Deus. O que não pode o homem é separar o que Deus uniu, mas nem sempre é Ele que une em muitos casamentos.
O casamento verdadeiro tem uma unidade especial, como demonstram os gnósticos. Alude Boris Mouravieff: “El casamiento pneumático asegurará el desarrollo directo de la gama anterior y hará alcanzar el Amor a los felices esposos, en relación a su Segundo Nacimiento, en la nota DO: esto será la unión por la Eternidad, em la conciencia de su Yo real en sí bipolar pero UNO para los dos, e indivisible (…) El casamiento pneurnático impone condicioncs especiales, particularinente abstinencia, la cual constituye el choque complementario necesario al franqueamiento del intervalo entre FA y MI de la gama directa. Además, los esposos están llamados a aportar una serie de esfuerzos sucesivos que, considerados globalmente, representan la promesa que se comprometen a respetar hasta el fin de los tiempos e incluso más allá. (…) El caso del adulterio único o repetido, con o sin divorcio, está representado en el esquema siguiente. El adulterio, tanto como la poligamia o la poliandria, produce unión sólo a nivel de los cuerpos”. O casamento gera uma relação especial, a nível gnóstico, e o adultério apenas gera uma relação física, a nível superficial, diferente do resultante de sacramento. Há quem considere qualquer falta de castidade como adultério (Wesley).
O amor entre os judeus era reservado ao Sábado, e a mulher tinha um papel muito importante, como se fosse a parte feminina de Deus, ou Shekinah. O casamento é metade da religião (casamento entre a terra e o céu, ou, como disse Tomé, somente os solitários entram na câmara nupcial). Se divorciar é cometer adultério, se divorciar de Deus, quando Ele mesmo une. O conhecimento bíblico (sexo) deve assim ser entendido com toda veneração, com toda fidelidade. Não há espaço para a fornicação, e, esta é o verdadeiro divórcio, crime contra o Espírito Santo. Mas a castidade é apoiada e mesmo a virgindade, em I Coríntios 7, devendo ser igualmente respeitada ao lado do casamento. Já disse Dion Fortune: “La cuestión de la virginidad tiene también su punto completo y curioso en el ocultismo. Los antiguos libros sobre la materia tienen mucho que decir sobre esos asuntos, siendo siempre la primera necesidad para muchas operaciones ocultas una virgen purísima o un muchacho, que no haya aún llegado a la pubertad. Desde el punto de vista de la ciencia espiritual sólo son vírgenes aquellos que nunca han conocido hasta entonces el deseo sexual”. Logo a respeito da virgindade também importa a pureza da alma. O Papa João Paulo II falou na ascese e controle dos instintos. O Mashiah Jesus disse que se o olho do homem é motivo de seu pecado, que este o lançasse ao fogo. Também isso é representado pela serpentes que picaram Moisés, antes do Eterno lhe ensinar um meio de vencê-las. Adulterar é então contrariar o Eterno na finalidade sagrada que este colocou na sexualidade, que é em si pura e casta. O maior adultério foi o conhecimento da árvore do bem e do mau (uso não sagrado da sexualidade) e a traição espiritual de Deus. Por fim é a dureza de coração do homem que permite o divórcio.
Fontes
I Cor. 7
João 8:1
Dt. 24 e 22:22
Mt. 19:3 ss
Mc. 10:2 ss
César Vidal Manzanares - Dicionário de Jesus e dos Evangelhos
João Paulo II – Catequeses de João Paulo II
Joseph Murphy – O poder curativo do amor
Burtner e Chiles (compiladores) – Coletânia de Teologia João Wesley
Boris Mouravieff – Gnosis: Cristianismo Esotérico
Dion Fortune – Amor y sexo segun el ocultismo