Significado místico do jumento, da tempestade e a semente de
mostarda
“Quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao Monte
das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que
está defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho
com ela; desprendei-a, e trazei- mos” (Mat. 21:1-2)
“E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. E eis que se
levantou no mar tão grande tempestade que o barco era coberto pelas ondas; ele,
porém, estava dormindo. Os discípulos, pois, aproximando-se, o despertaram,
dizendo: Salva-nos, Senhor, que estamos perecendo. Ele lhes respondeu: Por que
temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se repreendeu os ventos e o mar,
e seguiu-se grande bonança. E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que
homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem? (Mat. 8: 23-27)
“Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante
a um grão de mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo; o qual é
realmente a menor de todas as sementes; mas, depois de ter crescido, é a maior
das hortaliças, e faz-se árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham
nos seus ramos”. (Mat. 13:31-31)
Muitas vezes a vida do
místico e do mestre é confundida com mero milagre, quando tem muito mais que a
sua própria realização. Fato é que esse caminho estreito ou porta estreita se
divide em 5 estágios, como lembra Raul Branco, autor que descobri estar em
plena sintonia com o que escrevi em minhas obras, e que assim observa: 1 - O
despertar (ou conversão), 2 A purgação, 3 Iluminação, 4 Purgação da alma (noite
escura da alma) e 5, a União (com Deus). Nosso Senhor Jesus disse que ele e o Pai
eram um, então sabemos de que é inconfundível. Alguns místicos passaram
claramente por fases semelhantes, como João da Cruz, que ainda é pouco
lembrado, apesar de sua vida fenomenal. Madre Tereza e outros passaram por
estágios semelhantes em seu desenvolvimento místico. Fato é que a Bíblia relata
em muito numa forma alegórica, esse despertar. Fato é que se deve em muito se
ater em detalhes históricos e geográficos dos Evangelhos, mas seu sentido
místico para estar bem presente, principalmente nos milagres (uma vez que os
poderes teúrgicos são mais características de magos pagãos, não da cultura
judaico-cristã).
Já ao longo dos meus dois livros sobre a
Bíblia falei do aspecto místico de Jesus, de sua característica além de
externa, fatos da vida e sua paixão, também de seu aspecto interno no homem, e
mesmo em todo o Universo. O Evangelho de Tomé, dito apócrifo, revela bem essa
característica. A jumenta é um caso especial, e revela muito de algo que além
de profetizado, estaria com um aspecto místico na entrada de Jerusalém. Isso
teria ocorrido por ocasião da festa de Sucot (ou das tendas), e Mateus cita
ainda um comentário do midrash sobre Zacarias 9. Mas o aspecto mítico fala do
Cristo (interno) que domina a natureza inferior ou animal, representada pela
jumenta. Assim a alma entra na casa do Pai (Jerusalém Celeste). É o Cristo que
encarna entre nós, sendo domínio sobre a matéria, ou 4 elementos, o animal
quadrúpede.
Já o evento de Jesus na tempestade,
naquele barco tem a mesma dinâmica. O
barco é uma alegoria para o corpo, sendo os discípulos os aspectos da mente e a
tempestade em sai são os ventos da dúvida e as ondas do desejo. Quanto já o
desejo afastou pessoas da senda mística? Muitas vezes. Então o Cristo interior
mais uma vez salvando os homens e mostrando o autodomínio, pois não há
tempestade mais perigosa do que aquela que existe dentro de uma pessoa
perturbada. A mente do homem é o cenário de toda a tempestade, como revela
Geoffrei Hodson.
Já a semente de mostarda é descrita mesmo
como uma parábola, e seria difícil ver apenas fato histórico na descrição. Essa
semente representa a natureza divina do ser humano, e a germinação e nascimento
do Cristo interno. Ela é semeada na escuridão da terra, na natureza corporal do
homem, e assim alimentam as aves do céu, que ainda se alimentam de seus frutos.
Aves são esse despertar espiritual. E tal leva ao Reino dos céus, o que era a
intenção da parábola.
Fato é que havia duas escolas de
interpretação bíblica: a de Antioquia e a de Alexandria. Essa segunda ficou um
pouco em segundo plano, haja vista o medo que levava a sua interpretação, por
parte de dogmáticos e poderosos. Na segunda dois grandes expoentes são Clemente
e Philo, que faziam uma leitura muito profunda das passagens do Evangelho. Assim
a letra da Bíblia é um corpo, mas sem a alma esse corpo seria apenas um
cadáver. Assim a interpretação alegórica é fundamental para o entendimento do
sentido espiritual dos ensinamentos de Jesus. Leva assim ao Cristo que nos acompanha,
e que está em todo o Cosmo, não apenas em igrejas, livros e na história.
AMO LER TEXTO BÍBLICO.
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