Passagens
bíblicas e tradução de acordo com o grego
“Abrirei
em parábolas a minha boca; publicarei coisas ocultas desde a queda
do mundo”. (Mateus 13:35)
“Não
compreendeis que tudo o que entra pela boca desce pelo ventre e é
fossa?” (Mateus 15:17)
“Professor,
bem sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus, segundo a
verdade, e com ninguém te importas, porque não olhas para a
aparência dos homens” (Mateus 21:22)
“Em
seguida, recolheram doze bolsas cheias dos pedaços de pão e
de peixe”. (Marcos. 6:43)
“Pois
todos nós recebemos de seu Pleroma, e graça sobre graça”.
(João. 1:16)
“Viajei
em caravana a festa; eu não subo ainda a esta festa, porque
ainda não é chegado o meu tempo”. (João 7:8)
“E
eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Advogado, para que
fique convosco para sempre”. (João 14:16)
“e
nenhum deles se perdeu, senão o filho da destruição, para
que se cumprisse a Escritura”. (João 17:12)
Ao
lermos bíblias de estudo, percebemos a referência da palavra grega
em determinadas passagens do Novo Testamento, de modo que assim
notamos a diferença de contexto que se pode ter ao usar dessa
tradução alternativa. Alguns versículos ganham um sentido bem mais
amplo, e nos colocam na realidade do que foi descrito, e outros
apenas mudam para algo mais real ou literal. Lembramos que uma
simples tradução para o inglês já foi considerada heresia, e que
a Bíblia em momentos antigos era proibida em sua leitura por
leitos. Vemos na arte da contrarreforma muitos desses fatos bíblicos
mostrados como símbolos de fé, mas que muitas vezes não
correspondia a realidade dos fatos, como o local dos pregos na
crucifixão, que não seriam nas palmas das mãos, e outros fatos
avaliados pela ciência e arqueologia bíblica.
Já
no primeiro versículo citado, de Evangelho de Mateus, capítulo 13,
versículo 35, vemos que a palavra que habitualmente é traduzida
como “fundação”, no caso “desde a fundação do mundo”, na
verdade se refere desde a queda, que seria a queda relatada em um
período pré-adâmico, segundo Dake. A palavra grega katabole
seria mais então uma
derrubada, e não uma fundação.
Essa queda dos anjos relatada na tradição oral cristã, e que lá
na cabala se refere a Samael e sua tentação de Eva, bem como da
serpente com Adão. Isso foi transformado na história de Lúcifer e
de sua vontade de estar no lugar de Deus, no relato de Isaías sobre
a estrela mais brilhante. Também nos lembra a queda de Adão, pelo
pecado original, o que originou a morte e sofrimento, bem como a
necessidade de se trabalhar para sustento, com o seu suor, e as dores
de parto de Eva. Logo a sabedoria e poder de Jesus desde essa queda,
porque ele é o Novo Adão, que tira o pecado do mundo e restaura o
Cosmo.
Já
em Mateus 15:27, a palavra grega aphedron é
fossa ou esgoto, e por isso traduzida como “o que é expelido” ou
“o que é lançado fora”. A palavra fossa seria interessante,
porque nos leva a ideia de uma cloaca ou boca, e assim parece ser boa
opção de tradução para o versículo em questão. Já que Jesus
fazia muitos jogos de palavra, possivelmente tenha feito um jogo
nesse sentido, quando da presente pregação. Isso também nos leva a
lembrar do Evangelho de Tomé, dito apócrifo, onde se fala que o que
entra pela boca não pode fazer mal ao homem, mas sim o que sai. Uma
forma de ensinar dos males da injúria e calúnia. E também de
ensinar que o alimento mais importante é o espiritual, e não o
carnal. Porque a carne não herda o Reino.
Na
passagem de Mateus a que se fala do mestre Jesus, a palavra grega
didaskalos seria
melhor traduzida como professor, trazendo também mais realidade ao
texto. Em várias passagens se mostra essa dimensão pedagógica e
andragógica de Jesus, que ensinava por onde passava, mesmo a classes
que antes não tinham acesso a esse saber, como o caso de
estrangeiros, mulheres e crianças. O termo mestre nos leva muito a
uma concepção oriental, e que talvez não estava presente naquela
realidade, que era mais de fé e ensino oral.
Já
a passagem de Marcos sobre a multiplicação dos pães, nos leva a
lembrar de figuras e pinturas sobre o cesto onde os mesmos eram
levados, cheios de pães e de peixes. A palavra grega kophinos
se refere a uma bolsa que os judeus levavam em caravanas, para levar
alimentos, uma vez que não comiam aquela dos gentios. Tinha essa
bolsa a capacidade de em torno de 7 litros. No caso do versículo
citado, 12 x7= 84 litros. Logo a quantidade era considerável e em um
tempo onde não se esbanjava muito os alimentos, mais ainda.
Lembramos novamente de arte medieval com esses cestas retratados, sem
muita consciência do que realmente eram.
Continuando, em João, no seu capítulo primeiro, versículo 16,
notamos uma palavra muito cara aos gnósticos, e que é simplesmente
traduzida como plenitude, apesar de significar muito, mas muito mais.
É de certo modo o céu mais elevado, o local onde os justos e santos
terão por fim sua morada. Esse pleroma é o estado máximo a que um
iniciado pode alcançar nos mistérios. Assim um local de plena luz,
onde se tem de vestir uma veste de luz, um corpo glorioso. Nos leva a
pensar no tesouro de luz descrito em evangelho de Valentim, bem como
a um local que até para os anjos seria elevado. Logo é muito mais
do que mera plenitude mundana, ou algum estado de êxtase
superficial.
Em joão 7:8 se refere a viajar em caravana, com a palavra grega
anabaio, que em muitas
traduções está apenas “Subi”, na frase “Subi a esta festa”,
que na ocasião era a festa das cabanas, ou tabernáculos, sucot. Ele
assim tinha de fugir dos judeus, que o queriam matar nessa ocasião,
segundo a passagem referida. Jesus parecia querer subir sozinho, e
estava em grupo, fato que ia talvez lhe gerar o que não desejava,
ser declarado rei mundano. Ele diversamente das pessoas dos dias de
hoje, não procurava a fama, pois Jesus era um justo.
Também
o termo parakletos, que
muitas vezes é traduzido como Consolador, gera a confusão de não
se lembrar muito do Espírito Santo, ou o que no caso poderia ser uma
espécie de protetor, defensor, um anjo da guarda. A palavra seria
Advogado, e assim um defensor, haja vista que Satanás, o diabolos,
é um acusador. De certa forma é o próprio Cristo, e assim ele nos
defende contra os inimigos, ou o maior inimigo. Em orações, Maria é
também chamada de Advogada Nossa. E também capítulo 17, versículo
12, se fala em perdição, mas o termo mais literal seria “filho da
destruição”, levando mais uma vez a figura de Satanás, que vem
para matar, roubar e destruir, segundo outras passagens, e que parece
levar a descrença em Cristo. Por tudo isso notamos que o grego nos
mostra já um sentido mais profundo ou mesmo verdadeiro do Novo
Evangelho, que muitas vezes é traduzido conforme gosto de seitas e
de interesses. Um estudo sempre nos comprova porém, o Espírito da
Verdade que está com nós.
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