Deuteronômio e o dízimo
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas”. (Mat. 23:23)
O dízimo servia para o sustento dos pobres, das viúvas e seus filhos, bem como sacerdotes, não para o enriquecimento de sacerdotes ou ministros religiosos. Era prerrogativa da tribo de Levi, dos Levitas (sacerdotes). Assim a décima parte de colheita e animais, e devia-se a cada três anos. Então servia para dar à viúva, ao estrangeiro etc. Era uma contribuição com a obra de Deus antes de Cristo vir. Com Cristo Jesus não mais interessa a Lei para a carne, mas sim o Espírito Santo. “Também é certo que não temos nenhuma notícia que nos permita afirmar ter Jesus recebido o dízimo de seus seguidores. Ao que parece, a norma do dízimo não foi aplicada mais tarde, nem entre os judeu-cristãos, nem entre os cristãos pagãos” (Dicionário de Jesus e dos Evangelhos, p. 96). Desse modo, alguém que dá pouco com fé e devoção é melhor que aquele que dá muito e se arrepende. Também as primícias eram reservadas ao Senhor. O mestre Jesus disse para ensinar o Evangelho e apenas aceitar o que nos oferecem. Não há aí o dever de coletar dízimo ou dinheiro dos fiéis. Muito pelo contrário, deve-se proclamar a Boa Nova e nada trazer consigo. Como o Cristo disse a um dos que queriam ser seu discípulos, ou seja, para vender tudo o que tem e dar aos pobres. Há aí a sabedoria do desapego. A própria Lei defende a caridade como um serviço essencial.
Dízimo maior é o nosso progresso espiritual frente ao Pai. São os talentos (da parábola) que multiplicamos. É a boa árvore que devemos ser. O bom pastor. A boa ovelha. Para o Cósmico o amor é o verdadeiro dízimo. Não se pode servir a dois senhores (ao César do dinheiro e a Deus de amor). O dízimo não pode ser o bezerro de ouro (a divindade do dinheiro, da riqueza). Mas se deve ajudar o próximo quantas vezes? sete? Não, setenta vezes sete (infinitamente). Devemos acumular riquezas espirituais para dividir com a viúva (que se separou do Pai), de forma que retorne ao Pai. O Cristo pagou o maior dízimo, que é a remissão dos pecados, que foi a maior dívida do homem para com o Templo. O dízimo é uma semente que se plante, e, que cedo ou tarde trará bons frutos. Não se trata apenas de dinheiro a religião de que se é membro, mas de amor ao próximo em atos de caridade, tanto ao amigo como ao inimigo (pois todo ser é puro em sua origem, e, ninguém é necessariamente inimigo).
Contudo Jesus não cobrava dízimo, haja vista não ter sido descendente da tribo de Levi. Falou aos seus Apóstolos para pregar e nada pedir além de abrigo e comida: “E chamou a si os doze, e começou a enviá-los a dois e dois, e dava-lhes poder sobre os espíritos imundos; ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, senão apenas um bordão; nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto; mas que fossem calçados de sandálias, e que não vestissem duas túnicas. Dizia-lhes mais: Onde quer que entrardes numa casa, ficai nela até sairdes daquele lugar. E se qualquer lugar não vos receber, nem os homens vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos vossos pés, em testemunho conta eles. Então saíram e pregaram que todos se arrependessem; e expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam.” (Mat. 6:13) O que se percebe é que se pregava o Evangelho em troca de abrigo e comida, apenas. Verdadeiro dízimo é a caridade, o amor ao próximo e a Deus. Antes representa a Justiça.
Mas ainda há quem tenha dado tudo pela Obra de Cristo: “Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos. (Atos 2:44-47). Já segundo Macedo, “a árvore proibida, no paraíso, representava o dízimo, isto é, a parte de Deus na qual o homem não podia sequer tocar, embora pudesse regá-la e fazê-la crescer”(p.99, 100). Mas isso não falou Jesus. A Igreja passou a usar de influências do judaísmo, mas entre os Apóstolos mesmo não vemos essa prática. Deste modo, Jesus não condenou o recebimento de dízimo, que em Mat 23:23 faz crítica ao mesmo, ainda por não o obrigar. Entre presbíteros eram selecionados os de maior virtude, então sem nenhuma ganância ou vontade de enriquecer. E o mestre Jesus também disse para dar tudo aos pobres, pegar a cruz e segui-lo, não dar a um templo ou igreja.
A contribuição com a Igreja deveria ser voluntária, e não se chamando esta de dízimo, uma vez que não se tratam de Levitas que vão a receber. Nesse sentido John Wycliffe (1324-1383), teólogo e eclesiástico, precursor inglês da Reforma Protestante condenou a riqueza do clero e defendeu a abolição do dízimo: para ele, a Igreja deveria se manter com as doações voluntárias. Mesmo meu amigo filósofo Cléverson Israel Minikovsky faz uma crítica em sua Summa Philosophica: “Tese de n° 03.126: O que efetivamente é mencionado pela Bíblia é o dízimo e até o dia de hoje, na Igreja Católica, as intenções representam expressiva importância econômica, fato que se afigura não só como apropriação indevida de riqueza, mas como tese infundada que vislumbra a possibilidade de mudar o destino de alguém mesmo após sua morte, anulando o sacrifício de Cristo na cruz com a ideia de purgatório”. O dízimo é da carne, e a carne não herda o Reino dos Céus. Não se deve agir, por conclusão, como os fariseus e escribas a que criticou Cristo. Por fim ensinou Saint Martin: “O homem é o dizimo do Senhor”.
Fontes
Mat. 6:13
Atos 2:44-47
Mat. 23:23
Cléverson Israel Minikovsky – Summa Philosophica
Louis Claude de Saint Martin – O Homem de Desejo
César Vidal Manzanares - Dicionário de Jesus e dos Evangelhos
Alexandre e Analete Quintanilha – Chave Bíblica
CRIVELLA, 501 Pensamentos do Bispo Macedo, pp. 99-100 in A Teologia da Prosperidade, de Edson Poujeaux Gonçalves.
O sujeito que prega a extinção do dízimo sob o pretexto de que o clero é rico é um louco. 90% com Deus vale muito mais do que 100% sem Deus. O dízimo é pré-legal, é legal e é pós-legal, ou seja serve também para nós que estamos na graça. É evidente que o dízimo sozinho é incapaz de justificar alguém. Mas toda conversão, todo amor, toda abnegação nada são sem o dízimo. O dízimo deve ser o corolário disto tudo. Muito obrigado pela mensagem. Respeitosamente, CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY
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